Gansos substituem cães desde 2019 na unidade que abriga 1,3 mil detentos. Aves têm comportamento sentinela e são difíceis de domesticar, segundo professor de zoologia.
Faça chuva ou sol, noite e dia, os gansos que vivem no Complexo Penitenciário do Estado (Cope), em São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, estão sempre atentos ao que acontece ao redor.
Comandados por ‘Piu’, o mais famoso e barulhento do grupo, eles desempenham o trabalho de sentinela na prisão de segurança máxima de Santa Catarina, onde 1,3 mil presos estão abrigados, e são vistos pelos policiais penais como “colegas”.
O bando, com nove gansos, está na unidade desde 2009, quando um servidor que criava os animais viu neles a vocação para a patrulha. Desde então, circulam pelo terreno alertando sobre qualquer movimentação.
A unidade é a única do estado que abriga os animais. No país, outros locais já utilizaram gansos para ajudar na segurança. A iniciativa já foi vista no Rio Grande do Sul e no Piauí.
Os gansos substituíram os cães que ajudavam na segurança da unidade prisional, inaugurada em 2002. De acordo com Marcos Coronetti, policial penal do COPE, os antigos moradores eram mais dóceis e domesticáveis, ao contrário dos gansos, avessos ao contato humano.
“Além dele ficar 24 horas de prontidão total e ser um excelente sentinela, ele não tem o custo que o cachorro teria para treinamento, para alimentação e para veterinário. É um animal que não fica doente, que não dá despesa. É um ótimo guarda”, explicou o policial.
Os animais também recebem atendimento e alimentação na unidade. São os presos do semiaberto que ajudam no cuidado, mas de longe, separados por uma grade.
Na unidade, o bando fica abrigado em uma área com grama entre a muralha de 6 metros de altura e um alambrado onde os detentos circulam.
A parceria entre os policiais penais e a tropa de gansos deu tão certo que a ideia da unidade, agora, é aumentar o número de animais. No planejamento, os agentes pretendem construir novas estruturas para que eles possam ter mais espaço no local.
“É um fato inusitado, é uma coisa divertida, é uma coisa nossa aqui. É um colega nosso, assim como o policial penal, faz parte da segurança”, afirmou Coronetti.
Regulamentação
Procurado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que acompanha a situação das prisões do estado, afirmou que não possui nenhum tipo de norma sobre o uso dos animais. O órgão afirmou que a questão é de responsabilidade do poder executivo.
O Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Políticas Penais, disse que não possuiu nenhum regulamento sobre assunto. Já a Secretaria de Administração Prisional (SAP) destacou que os animais são usados apenas como complemento à segurança do estabelecimento prisional.
Além de 167 câmeras de monitoramento ligadas 24 horas por dia, o prédio tem torres de vigilância e patrulha constante.
Comportamento Sentinela
Professor do departamento de zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Guilherme Renzo Rocha Brito explica que a opção pelos gansos é em função do animal ter como comportamento emitir sons ao menor sinal de perturbação.
“Essa ideia vem do hábito gregário que esses animais têm. De viver em bando relativamente grande e é uma maneira deles se protegerem. Isso é super antigo, são 3 mil anos ou até mais da domesticação desses animais, principalmente na Ásia. Então, o pessoal acabou percebendo esse tipo de comportamento e acabou utilizando para os diferentes objetivos”, detalhou.
O especialista em aves também destaca que os animais vivem cerca de 15 anos, se criados em cativeiro. Ressalta que, apesar do contato com humanos, eles seguem o instinto de preservação.
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