Além de ser detido sob suspeita de treinar criminosos do Comando Vermelho, o ex-policial militar do Bope Ronny Pessanha de Oliveira, conhecido como Caveira, também está sendo investigado por lavagem de dinheiro por meio de uma empresa de segurança privada em que sua mãe figura como sócia. De acordo com as investigações, a empresa servia como fachada para movimentações financeiras ilícitas. Ronny foi capturado nesta segunda-feira, na Favela da Muzema, Zona Oeste do Rio, durante uma operação da Polícia Civil para conter a expansão do Comando Vermelho na região.
Além do bloqueio de R$ 5 milhões, agentes da polícia apreenderam veículos de luxo registrados no nome do ex-PM, mas utilizados por sua mãe.
Bloqueio de bens e esquema financeiro
Após a prisão, a Justiça determinou o congelamento de R$ 3 milhões movimentados em menos de um ano por duas empresas ligadas ao ex-policial: a empresa de vigilância patrimonial “Skull 47” e outra do setor de loteamentos. Ambas eram usadas para lavar dinheiro obtido através de atividades ilegais em parceria com o tráfico.
A mãe do ex-PM, de 53 anos, que trabalha como técnica de enfermagem em uma Clínica da Família, também está sendo investigada por participação no esquema.
— Ronny contava com o apoio de uma sócia na empresa dele, que também praticava atos de administração e atos de ocultação dos valores, com uma aquisição de veículos de luxo. Ele tem um veículo avaliado em quase R$ 300 mil em nome dessa sócia, que foi alvo de investigação — explicou o delegado responsável pelo caso.
Além do bloqueio dos R$ 3 milhões movimentados em menos de um ano pela empresa e pela conta pessoal do ex-policial, foram confiscados veículos de luxo registrados em seu nome e utilizados pela mãe. Também foi determinado o bloqueio de quase R$ 2 milhões movimentados por sua sócia e outros envolvidos, totalizando R$ 5 milhões em bens bloqueados.
Publicações da mãe nas redes sociais
Em postagens nas redes sociais, a mãe de Ronny exibe sua rotina como funcionária do Centro Municipal de Saúde Pindaro de Carvalho Rodrigues, na Gávea, Zona Sul do Rio, além de mensagens exaltando o filho.
“Essas fotos mostram o quanto somos um para o outro. Ninguém solta a mão de ninguém, nossas lutas, nossas guerras, vencemos, pois o SENHOR esteve a frente de tudo. Obrigada, Deus, por mais um ano comemorando a vida ao lado do meu primogênito e que agora como Pai vai saber o que é essa responsabilidade, mais um obstáculo que tenho certeza que vai alcançar com êxito”, escreveu ela em um post de 2024.
Entenda o caso
Ronny Pessanha foi capturado durante a Operação Contenção, deflagrada nesta segunda-feira pela Polícia Civil, com apoio da Subsecretaria de Inteligência da PM. Segundo o delegado Jefferson Ferreira, da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Ronny foi integrante da milícia da Muzema. Com a tomada do território pelo tráfico, ele mudou de lado e passou a treinar os traficantes da comunidade. Em troca, recebeu permissão para explorar empreendimentos imobiliários de forma violenta nas favelas da Muzema e de Rio das Pedras, além de atuar em outras comunidades da Zona Sul, como Cruzada São Sebastião e Vidigal.
De acordo com a polícia, o ex-PM utilizava armamento pesado para expulsar moradores e tomar posse de imóveis. Ele foi expulso da Polícia Militar e também é investigado por envolvimento em dois homicídios na Muzema.
— Pudemos perceber com o auxílio desse ex-policial, que antes integrava grupos milicianos e passou a integrar a facção criminosa Comando Vermelho, ele passou a treinar literalmente, com seus conhecimentos, traficantes que participavam e continuam participando dessa ofensiva expansionista, dessa guerra pela disputa territorial — explicou o delegado Felipe Curi, secretário estadual de Polícia Civil.
Além do bloqueio de R$ 3 milhões em duas empresas ligadas a Ronny, a Justiça determinou que outros R$ 2 milhões movimentados pela sua sócia também fossem bloqueados. Veículos de luxo registrados no nome do ex-PM e de sua mãe também foram alvos de mandados de busca e apreensão. No total, foram expedidos 22 mandados para cumprimento em endereços associados a ele.
— O Ronny contava com o apoio do sócio da empresa dele, na verdade, uma sócia, que também praticava atos de administração e atos de ocultação dos valores, como a aquisição de veículos de luxo. Ele tem um veículo avaliado em quase R$ 300 mil em nome dessa sócia, que foi alvo de investigação. E, além disso, a gente ficou, apurou ali no inquérito, que ele dialoga com diversas comunidades, todas dominadas pela mesma facção — acrescentou o delegado da DRF.
O ex-policial também é investigado por lavagem de dinheiro, realizada por meio de uma empresa de segurança patrimonial usada como fachada para movimentações ilegais. Sua prisão ocorreu durante a primeira fase da Operação Contenção.
Opinião SSP
O caso do ex-PM Ronny Pessanha de Oliveira, preso por treinar traficantes e envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro com uma empresa de segurança privada de fachada, levanta uma questão fundamental: a necessidade de maior rigor na fiscalização do setor.
A segurança privada desempenha um papel essencial na proteção de empresas, patrimônio e pessoas. No entanto, quando mal regulamentada ou infiltrada por criminosos, pode se tornar uma ferramenta para atividades ilícitas, como foi demonstrado nesta investigação. Empresas fantasmas, usadas para encobrir crimes financeiros, representam um risco não apenas para o setor, mas para a sociedade como um todo.
A recente sanção do Novo Estatuto da Segurança Privada busca corrigir falhas desse tipo, aumentando o controle sobre empresas e profissionais da área. Entretanto, o caso expõe a necessidade de fortalecer os mecanismos de fiscalização, garantindo que apenas profissionais devidamente treinados e empresas idôneas atuem no mercado.
Além disso, a participação da mãe de Ronny no esquema reforça a complexidade das redes criminosas, que utilizam parentes e terceiros para ocultar bens e dinheiro de origem ilícita. Esse tipo de crime prejudica a reputação dos profissionais sérios da segurança privada, que trabalham dentro da lei e lutam pelo reconhecimento da categoria. O caso Ronny Pessanha não pode ser tratado como um fato isolado. Ele deve servir como um alerta para que as autoridades ampliem o monitoramento de empresas do setor, assegurando que o mercado de segurança privada esteja alinhado com os interesses da sociedade e não dos criminosos.
Fonte: O Globo | Reprodução
https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/03/25/mae-de-ex-pm-preso-por-treinar-traficantes-era-socia-de-empresa-de-seguranca-de-fachada.ghtml