Especialistas do mercado de segurança admitem riscos ao setor com “tarifaço” de Trump, mas indicam possíveis efeitos positivos

Marco Barbosa, diretor da Came do Brasil, e Edvandro Cezar, gerente de exportação e importação da empresa, apontam prováveis cenários no segmento

Abril, 2025 – A decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas altas à China e outras taxas aos seus demais parceiros comerciais nas transações de produtos importados, anunciada no último dia 2 de abril sob as justificativas principais de proteger a indústria norte-americana, estimular o investimento interno e gerar mais empregos no país, é uma medida que promete impactar a economia mundial como um todo, com consequências importantes em quase todos os setores. E um deles é o mercado de segurança, que agora se vê desafiado pelas consequências que o chamado “tarifaço” do presidente Donald Trump poderá causar aos negócios deste segmento de maneira global.

Neste setor, a Came é líder mundial em produtos de controle de acesso, fornece equipamentos e projetos a clientes em mais de 100 países atualmente e teve, no ano passado, um faturamento de cerca de R$ 2 bilhões globalmente. Diretor da unidade nacional da companhia, Marco Barbosa, e o gerente de exportação e importação da empresa, Edvandro Cezar, analisaram prováveis cenários proporcionados ao panorama das atividades econômicas dentro deste ramo da economia com a nova política tarifária anunciada pelo governo dos EUA. Os dois especialistas admitiram riscos de dificuldades causadas por essa decisão, mas apontaram possíveis efeitos positivos que a medida poderá trazer ao Brasil em um primeiro momento, como o aumento das demandas ao mercado interno, o consequente aquecimento das vendas e a redução dos preços das importações.

Essas possibilidades foram indicadas em meio a um cenário no qual as taxas anunciadas por Trump foram, em média, de 10% para as nações da América Latina, de 20% à Europa e de 30% à Ásia. “Vendo aqui a perspectiva dos aumentos de tarifa, a conjuntura do mercado vai depender muito das empresas, de onde elas importam seus produtos. Normalmente, uma grande parte dos equipamentos de segurança vem dos países dos Tigres Asiáticos, então eu quero crer que as taxas não deverão ter um impacto tão significativo assim aqui porque, ao contrário, com esses problemas de tarifa para a China e os Estados Unidos, muito provavelmente, uma parcela da demanda que os norte-americanos consumiriam, e não vão consumir mais por causa do preço, será distribuída a outros países. Desta forma, é bem possível que, dependendo dos produtos de segurança destinados a outros países, eles poderão chegar aqui no Brasil, inclusive, com uma condição de preço muito melhor”, analisa Barbosa.

Ao mesmo tempo, o diretor da Came lembra que a nova política tarifária dos EUA poderá estimular o crescimento dos negócios para abastecer o mercado da China, que é o maior fornecedor mundial de matéria-prima, e consequentemente reduzir, dentro do médio a longo prazo, a sua oferta disponível de exportação, o que colaboraria para um aumento dos preços dos produtos importados do país. “Precisamos ver como as tarifas vão repercutir na liberação da produção deles, se haverá maior consumo interno, pois, se a China consumir bastante do que produz, não vai conseguir exportar o mesmo volume que exportava para os demais países. Assim, os chineses poderão continuar exportando ao Brasil, por exemplo, mas, talvez, cobrando um valor um pouco mais caro”, reforça.

Essa questão da variação dos preços no mercado de segurança, condição vislumbrada na esteira do conflito tarifário entre as duas principais economias mundiais da atualidade, foi analisada de forma semelhante pelo gerente de exportação e importação da Came, que tem grande parte dos produtos disponibilizados em seu portfólio, no Brasil, importados da Itália, país de origem da companhia. 

“Como no mundo hoje, praticamente, as duas grandes potências são apenas Estados Unidos e China, qualquer conflito comercial entre eles vai gerar consequências para o mundo porque, de alguma forma, mesmo que eu traga os componentes dos produtos da Itália, em algum momento essa empresa venderá ou comprará dos Estados Unidos ou da China. Então, isso vai acabar gerando algum resultado positivo ou negativo e influenciará, assim, no preço. Provavelmente, em um primeiro momento, esse estoque que a China produzia para os Estados Unidos, ela vai ter de desovar para a Europa e ao Brasil. Então, muito provavelmente, os preços vão cair. Até porque vai aumentar a concorrência dentro do mercado interno”, projeta Edvandro Cezar.

“Se o chinês não consegue mais vender para os Estados Unidos, então ele vai oferecer para o resto do mundo, e mais barato para poder entrar nestes países, inclusive. Mas há a possibilidade, sim, de ter inflação no mundo por conta desse conflito comercial entre norte-americanos e chineses”, completa o especialista.

Preocupação com violência dispara no Brasil

A nova política tarifária anunciada pelos Estados Unidos também ocorre em um momento no qual o temor da população brasileira com a criminalidade aumenta em ritmo alarmante. Em pesquisa do Instituto Quaest, encomendada pela Genial Investimentos e realizada entre os dias 27 e 31 de março, pela primeira vez, desde o início da série histórica, aberta em abril de 2023, a violência apareceu no topo das preocupações atuais dos brasileiros, com 29% de todas as pessoas entrevistadas, de 16 anos ou mais de todo o país, votando neste item do estudo. Esse tema ficou à frente de vários outros importantes, como questões sociais (23%), economia (19%), saúde (12%), corrupção (10%) e educação (7%).

A realidade do país se reflete nos números da Came, onde a unidade nacional da empresa dobrou de tamanho nos últimos quatro anos e está prestes a ampliar a sua estrutura, com a inauguração de uma nova fábrica, em Indaiatuba (SP), para poder atender com maior capacidade e eficiência logística a demanda crescente do mercado nacional. 

Da mesma forma, entretanto, a filial brasileira sabe que os desdobramentos da economia mundial podem impactar o setor em que atua e ter efeitos negativos se Trump resolver, por exemplo, aplicar em um futuro próximo à cobrança de tarifas de 145% que ele chegou a impor aos produtos eletrônicos da China importados aos EUA. Pressionado por gigantes da tecnologia, o presidente norte-americano recuou e isentou essas taxas.

Ao analisar essa conjuntura, o diretor da filial brasileira da Came destacou que a unidade nacional da companhia hoje não tem relação comercial com os Estados Unidos e atende, basicamente, a clientes da América do Sul. Porém, Barbosa salienta que a possível adoção dessa tarifa aos chineses poderá gerar consequências importantes, como a elevação dos seus gastos de produção no país. “A Came do Brasil não tem um problema direto com importação ou exportação para os Estados Unidos, então a gente está isento desse problema. O problema que teremos é se, no futuro, vigorarem essas taxas, o que deverá provocar, muito provavelmente, um aumento de custo marginal pelo efeito em cascata que isso decorre nos demais países”, pondera o líder da empresa.

A preocupação não é para menos. O gerente de exportação e importação da Came lembra que o mercado de controle de acesso, no qual são comercializados produtos como catracas, cancelas, controladores de equipamentos e sensores, depende fortemente de componentes eletrônicos importados, muitos deles fabricados na China. “Com o tarifaço, fruto da disputa entre norte-americanos e chineses, o preço desses componentes sobe no mercado internacional. O Brasil, que importa muitos desses itens, paga um preço maior também, mesmo sem estar diretamente na briga entre essas potências. Resultado: os produtos ficam mais caros, as margens apertam e o preço final ao cliente aumenta”, analisa.

O especialista também destaca que a imposição dessas taxas à China poderá impactar no fornecimento dos suprimentos. “Conflitos comerciais geram quebra ou atraso nas cadeias logísticas globais. Isso já aconteceu durante a pandemia do novo coronavírus e se repete em crises comerciais. Os componentes demoram mais para chegar, as fábricas chinesas priorizam mercados maiores ou ‘mais seguros’ e a falta de insumos pode atrasar a fabricação e a instalação de sistemas no Brasil. Os resultados de tudo isso podem significar prazos de entrega estendidos, obras paradas e clientes insatisfeitos”, completa o gerente.

Outros possíveis efeitos do conflito tarifário

O conflito tarifário ainda implica em outros fatores que preocupam as companhias do setor de segurança, principalmente as que possuem menor estrutura para abastecer a sua cadeia produtiva. Este não é o caso da Came, hoje com filiais em mais de 20 países e controladora de sete empresas que ajudam o grupo a disponibilizar um extenso portfólio de equipamentos ao redor do mundo. 

No Brasil, oferece atualmente aos seus clientes: diferentes modelos de catracas, cancelas, automatizadores de portões e portas automáticas e com detectores de metais em sua linha de controle de acesso; bollards, road blockers, dilaceradores de pneus, cancelas e portas capazes de absorver fortes impactos em sua gama de alta segurança, além do Came Key, do Came Connect e do Came QBE, acessórios remotos para operar dispositivos à distância.

Entretanto, é inegável que a guerra comercial entre norte-americanos e chineses tem efeitos inerentes a todos, como a maior oscilação monetária, o risco de concorrência desigual e a possível diminuição dos investimentos. “Quando há tensões entre China e EUA, os mercados ficam voláteis e o dólar dispara frente ao real. Para o Brasil, isso significa importações mais caras e reposição de estoque mais difícil. Consequentemente, empresas precisam repassar preços ou absorver prejuízos. Companhias brasileiras que dependem de insumos importados podem perder competitividade para concorrentes que fabricam tudo nacionalmente ou que têm estoque ou acordos melhores. Em tempos de crise, quem tem produção verticalizada ou estoque local leva vantagem. Ambientes instáveis também impactam para a redução de financiamentos e novos projetos corporativos. No setor de segurança, por exemplo, o resultado disso pode ser um menor número de contratos, obras e oportunidades para a expansão de shoppings, condomínios e empresas, que são grandes clientes do segmento de segurança eletrônica”, explica o gerente de exportação e importação da Came.

Fonte: Assessoria Came do Brasil

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