Dois alunos negros, de 11 e 12 anos, denunciaram uma abordagem discriminatória por parte de uma segurança no Shopping Pátio Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, na última quarta-feira (16). Segundo o relato da família, a agente de segurança questionou uma adolescente branca se os dois colegas negros, que a acompanhavam, estariam incomodando ou pedindo dinheiro.
Os estudantes, matriculados em uma escola particular próxima ao centro comercial, estavam na praça de alimentação antes do início das aulas da tarde. O episódio foi presenciado por um professor, que afirmou ter ouvido a segurança dizer que não era permitido pedir dinheiro no shopping, enquanto os alunos negavam qualquer abordagem do tipo.
As famílias das vítimas registraram um boletim de ocorrência e acionaram advogados. Os meninos ficaram abalados com a situação, segundo seus responsáveis. “Foi um episódio violento. Todo mundo merece respeito, e ali isso não foi oferecido”, declarou o irmão mais velho de um dos jovens.
A administração do shopping divulgou nota lamentando o caso, afirmando que está em contato com os familiares e que oferece treinamentos aos colaboradores. A mãe de uma das crianças relatou ter sido informada pela escola e descreveu o impacto emocional da filha como profundo: “Ela chorou muito. É inaceitável que isso ainda aconteça.”
Na manhã do ocorrido, os estudantes participariam de uma aula sobre letramento racial, que precisou ser adiada devido ao estado emocional dos envolvidos. A orientadora educacional responsável pela atividade defendeu a necessidade de reparação e reforçou a importância de combater esse tipo de conduta.
Casos semelhantes já foram registrados no mesmo shopping, como em 2022, quando adolescentes denunciaram serem seguidos por seguranças em uma loja de eletrodomésticos.
Para o professor presente no momento, o episódio reflete um problema estrutural: “Não é um fato isolado. Os alunos ficaram visivelmente abalados, como se aquele ambiente não fosse para eles.”
A Secretaria de Segurança Pública informou que o caso será investigado e as medidas cabíveis serão adotadas.
Análise SSP
O episódio envolvendo a abordagem discriminatória contra dois estudantes negros no Shopping Pátio Higienópolis é, infelizmente, mais um reflexo da ausência de preparo, empatia e responsabilidade em setores que deveriam primar pela proteção e acolhimento de todos.
Segurança privada é, acima de tudo, uma atividade que exige profissionalismo, ética e respeito à dignidade humana. Quando um agente ultrapassa esses limites e atua com base em estereótipos raciais, não está apenas cometendo uma falha individual — está comprometendo toda a credibilidade da profissão e agravando feridas históricas que ainda não foram curadas.
É inadmissível que, em 2025, crianças sejam submetidas a esse tipo de constrangimento por simplesmente existirem em um espaço de consumo e lazer. O racismo, nesse caso, não se manifesta apenas como um erro de abordagem, mas como um ataque direto ao direito de ir e vir, ao sentimento de pertencimento e à autoestima de jovens que ainda estão em formação.
A SSP defende uma segurança privada técnica, qualificada e comprometida com os direitos humanos. Isso inclui formações rigorosas, treinamento contínuo em condutas anti discriminatórias e mecanismos de controle e responsabilização para evitar que episódios como este voltem a ocorrer.
Mais do que uma nota de pesar, o mínimo que se espera das instituições envolvidas é ação concreta: apuração rigorosa, responsabilização dos envolvidos, apoio psicológico às vítimas e investimentos reais em letramento racial nas equipes de segurança.
Segurança só é segurança de verdade quando é para todos.
Fonte: G1 | Reprodução
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/04/17/alunos-de-escola-particular-acusam-seguranca-do-shopping-patio-higienopolis-de-racismo.ghtml