Policiais militares indiciados por envolvimento com organização criminosa recebiam R$ 400 por dia para atuar como seguranças particulares de Vinícius Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), executado com dez tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos em novembro de 2023. Segundo relatório do inquérito policial militar, ao menos 12 PMs da ativa revezavam-se na escolta. Em viagens, como uma ida a Maceió dias antes do crime, a diária chegava a R$ 500.
A escala era coordenada pelo tenente Giovanni de Oliveira Garcia, conhecido como “Garça” ou “Chefinho”, que também recrutava os militares. Registros anexados ao inquérito mostram, por exemplo, que o soldado Samuel Tillvitz da Luz teria a receber R$ 4.800 por 12 dias de trabalho.
Em depoimento à Corregedoria da PM, o tenente Garcia afirmou que apenas indicava os PMs e recebia R$ 100 por diária como comissão. No entanto, mensagens de celular contradizem essa versão, mostrando que ele oferecia as vagas diretamente, organizava escalas e até solicitava dados para pagamento via Pix.
Embora não tenham sido apontados como participantes diretos do homicídio, 12 PMs foram indiciados por organização criminosa, e um deles também por falsidade ideológica. Já três outros policiais — Denis Martins, Ruan Silva e Fernando Genauro — foram acusados de envolvimento direto no assassinato e responderão por homicídio qualificado na Justiça comum.
Quem era Vinícius Gritzbach
Ex-corretor de imóveis, Gritzbach atuava lavando dinheiro para o PCC e passou a ser alvo da facção após suspeitas de desvio de recursos e envolvimento na morte de um traficante. Em 2024, firmou delação premiada com o Ministério Público de SP. Sua execução revelou a participação de policiais militares da ativa em um esquema ilegal de segurança privada.atuavam vazando informações em benefícios de chefões do crime organizado.
Análise SSP
O caso envolvendo policiais militares que atuavam como seguranças privados de um delator do PCC revela mais uma grave distorção no uso da força pública. É inaceitável que agentes da ativa, treinados e remunerados com recursos públicos para proteger a sociedade, se envolvam em atividades paralelas que desrespeitam a lei e colocam em risco a credibilidade das instituições.
Na segurança privada, a atuação clandestina — ainda mais quando envolve policiais — não só fere a legislação, como também desorganiza o setor formal e contribui para a insegurança da população. Mesmo que não tivessem envolvimento direto com o homicídio, os PMs sabiam que estavam prestando um serviço ilegal, atuando sem registro, sem contrato regular e protegendo uma figura ameaçada por uma organização criminosa.
O caso escancara a urgência de uma fiscalização mais eficaz e da responsabilização não apenas dos indivíduos envolvidos, mas também da cultura de permissividade dentro de alguns setores da segurança pública. A SSP defende a valorização da legalidade, do exercício regular da profissão de vigilante, e da separação clara entre as funções do agente público e do profissional da segurança privada. Não há espaço para “bicos” ilegais — especialmente quando feitos por quem deveria ser exemplo.
Fonte: Metrópoles | Reprodução
https://www.metropoles.com/sao-paulo/pms-que-faziam-seguranca-para-delator-do-pcc-ganhavam-r-400-por-dia