Um docente de 40 anos denunciou ter sido alvo de racismo ao ser impedido de acessar a instituição de ensino onde leciona, localizada no interior do Mato Grosso do Sul, no último sábado (10). O caso, ocorrido no fim de semana, ganhou repercussão na comunidade acadêmica e motivou manifestações de repúdio por parte de coletivos sociais e núcleos de estudos da própria universidade.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o professor narrou os acontecimentos. Segundo ele, ao chegar à entrada da instituição, foi abordado com hostilidade por um vigilante, que o interpelou de forma ríspida sobre o motivo de sua presença no local. O docente explicou que participaria de uma aula de pós-graduação, da qual é o coordenador.
Mesmo tendo sua presença justificada, o acesso não foi autorizado. Em seguida, uma aluna — identificada como branca — chegou ao portão, questionou a negativa e confirmou que a aula constava no cronograma. Nesse momento, o vigilante abriu o portão permitindo a entrada da estudante, mas não a do professor, que se recusou a entrar alegando falta de coerência na autorização e ausência de comunicação formal com a chefia.
O professor relatou ainda que tentou contato com a direção da instituição, sem sucesso imediato. Ele e a aluna permaneceram do lado de fora, até que, posteriormente, outros alunos chegaram e foram liberados para entrar. Revoltado, o docente afirmou que se sentiu vítima de discriminação racial, destacando que trabalha há 14 anos na instituição e é amplamente reconhecido pelos funcionários do local.
Ele relembrou outro episódio semelhante, ocorrido em 2011, e classificou o caso atual como mais uma expressão do racismo estrutural e institucional. Embora ainda não tenha registrado boletim de ocorrência, o professor afirmou que pretende formalizar a denúncia.
Em nota oficial, a instituição declarou que iniciou a apuração dos fatos, está analisando imagens das câmeras de segurança e que o controle de acesso nos finais de semana segue regras específicas que exigem autorização prévia. Contudo, ressaltou que mesmo funcionários terceirizados devem agir com respeito, igualdade e sem julgamentos baseados em estereótipos.
A universidade também informou que o profissional envolvido pertence a uma empresa terceirizada e que irá solicitar esclarecimentos da contratada. Afirmou, ainda, que poderá rever os protocolos de segurança e promover capacitações para garantir que todos os procedimentos estejam alinhados aos princípios institucionais de respeito e inclusão.
A nota finalizou destacando que a instituição mantém uma política consolidada de combate ao racismo, com apoio dos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas que atuam na promoção da diversidade e da equidade no ambiente acadêmico.
Análise SSP (Segurança Privada)
Pontos de atenção:
- Abordagem inadequada: O vigilante agiu com excesso de rigidez e falta de empatia em uma situação que exigia análise contextual. O tom agressivo, conforme relatado, compromete a imagem da segurança privada.
- Risco de racismo institucional: A diferença de tratamento entre o professor (homem negro) e a aluna (branca) aponta para um viés discriminatório, o que representa não apenas um problema ético, mas também um passivo jurídico grave para a empresa contratante.
- Falta de preparo: A situação evidencia a necessidade de capacitação contínua, principalmente em atendimento, relações interpessoais e diversidade. Segurança não é apenas controle de acesso, mas envolve mediação e postura profissional.
- Desalinhamento contratual: A terceirizada precisa garantir que seus profissionais conheçam e respeitem os princípios e as normas da instituição contratante. Neste caso, a falta de comunicação e autonomia do vigilante gerou um conflito desnecessário.
- Ausência de gestão imediata: A ausência de resposta da direção da instituição também agravou a situação. A gestão de segurança deve prever protocolos claros de escalonamento para casos de conflito ou suspeita de discriminação.
Recomendações:
Revisão de protocolos de acesso fora do expediente, com clareza sobre a autoridade de liberação.
Treinamentos obrigatórios sobre diversidade, direitos humanos e atendimento ao público, com foco em contextos acadêmicos.
Auditorias periódicas de postura profissional nas portarias.
Criação de um canal interno e célere para denúncias de condutas abusivas ou discriminatórias dentro dos serviços de segurança terceirizada.
Esse caso reforça a importância de uma segurança privada humanizada, capacitada e integrada à missão da instituição que protege.
Fonte: Mídia Max | Reprodução
https://midiamax.uol.com.br/policia/2025/professor-denuncia-vigilante-por-racismo-apos-ser-impedido-de-entrar-em-instituicao/